[GTER] Gostaria de saber como anda a implantação do sistema de IPV6 no brasil?

[Alexandre L. Grojsgold]

> IPv4 e IPv6 irão conviver juntos por muito tempo. Sabendo disso que o
> adota utiliza sistemas "dual stack". Ou seja, sistemas com ipv4 e v6
> ao mesmo tempo.
>
> A maioria dos S.Os hoje já tem suporte a ipv6, assim como os routers
> (que mantém duas tabelas de roteamento v4 e v6).
>
> Um site pode possuir os dois tipos de endereço. E uma resolução DNS
> informa também tanto um record A como AAAA.
> O sistema do cliente caso tenha também ipv6 habilitado pode então
> fazer a conexão ao site via IPv6 caso receba uma resposta AAAA a uma
> consulta DNS.
> Caso não tenha v6, ignora esse record e utiliza v4 como ocorre
> normalmente.
>
> Essa é a forma de se começar a utilizar ipv6 sem gerar um circulo
> vicioso e sem isolar os mundos.


Certo, a gente pode imaginar um mundo onde todos, ou quase todos, estejam
conectados a duas redes, uma IPv4 e outra IPv6. Lembrando que são mesmo
DUAS redes, muito parecidas, mas que não tem conexão e não interoperam nos
níveis 2 e 3.


A gente pode também imaginar um mundo onde as rotas IPv4 e IPv6 pelos
backbones e infraestruturas de encaminhamento de pacotes sejam igualmente
boas a eficientes.

(parêntesis: se eu da minha estação dual-stack recebo dois endereços IP
para o site onde quero ir, um V4 e outro V6, nada me garante que seja tão
bom usar um como outro. Pode ser, pode não ser. Mas o que parece claro é
que se tiver diferença, dificilmente o V6 vai ser o melhor).

Então, suponha-se então que cheguemos a esse mundo:

* quase todos os clientes (usuários domésticos e de empresas), com raras
  exceções, sendo capazes de trafegar  tanto V6 quanto V4, conectados às
  duas redes, possivelmente pela mesma infraestrutura compartilhada;

* quase todos os serviços & servidores acessíveis pelas duas vias, V4 e
  V6, indistintamente,  ou seja, seus nomes resolvidos tanto para
  endereços V4 quanto para endereços V6;

* praticamente todos os backbones e estruturas de acesso IP trafegando os
  dois protocolos indistintamente e com o mesmo desempenho, até a borda da
  rede (incluindo os pequenos routers/firewalls/nats dos clientes,
  telefones IP, e outros dispositivos menos propensos a rodar v6).


E o que acontece em seguida? Como se começa a abandonar o IPv4?

Para isso precisa ter uma força impulsionadora. Todas as vantagens
iniciais do IPv6 acabaram sendo igualadas por dispositivos equivalentes do
IPv4: segurança, suporte a qualidade diferenciada e auto-configuração. O
que poderaia então levar à mudança seria a tal exaustão de
espaço de endereçamento.


Se uma quantidade expressiva de estações só puder ter endereços V6 por
absoluta falta de alternativa, aí sim teremos um cenário onde os
provedores de serviço se preocuparão seriamente em um serviço V6 de
qualidade. Ou se um número expressivo de estações (celulares??) só tiver
endereços V6 por decisão dos seus fabricantes, ou por só assim se
tornarem viáveis. Nesse momento teremos um cenário propício à "virada".


Mas antes disso temos que chegar ao tal mundo ideal de que falei. Ou seja,
a transição passa por uma disseminação quase total do V6, atnes que seja
viável clientes e serviçso começarem a operar em modo V6-only.  Que força
impulsionadora nos fará chegar nessa situação? Isso é que é ruim na
transição para o
V6, e é mais ou menos disso que o Bernstein fala, eu acho.

Não dá para esperar que os endereços acabem. Quando isso acontecer será
tarde demais. E enquanto não acabam, não há estímulo para mudar de
infraestrutura de rede.

Pior, não há como efetivamente as duas redes conviverem lado a lado, uma
acessando os serviços da outra, e vice versa, de forma simples e
universal.

O dual stack é uma forma de convivência em superposição, e não resolve o
problema principal. Enquanto houverem largos setores da rede V4-apenas e
V6-apenas o problema continua o mesmo. Se 90% dos usuários estiverem em
dual stack, ainda assim os 10% que restam em V4 apenas desanimariam
qualquer provedor de serviços a abrir mão de seus endereços V4 e trabalhar
em V6 apenas!


Como se sai dessa?

Não sei, se soubesse ficava rico.


-- Alexandre.