[GTER] Traffic Engineering
Carlos Ribeiro
carribeiro at yahoo.com
Fri May 3 02:11:03 -03 2002
A todos, um artigo para discussão, críticas e sugestões.
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Traffic Engineering
Uma das 'buzzwords' associadas com MPLS é o famoso 'traffic engineering'. Mas
afinal o que é isso? Se você chegou atrasado na festa e ainda não sabe se é
para comer ou passar no cabelo, fique tranquilo: você certamente não está
sozinho.
Vamos a uma definição simplista, suficiente para nossos fins: 'Traffic
Engineering' é um conjunto de métodos e práticas, com o objetivo de otimizar
o fluxo de tráfego dentro de uma rede. Os principais parâmetros para avaliar
esta otimização são o balanceamento de tráfego entre múltiplas rotas
alternativas; a disponibilidade de rotas alternativas corretamente
dimensionadas, caso haja necessidade de reroteamento; e a obtenção de um
comportamento mais previsível (de preferência, determinístico) no processo de
encaminhamento dos pacotes dentro da rede.
A prática de Traffic Engineering é muito utilizada em grandes redes - aqueles
backbones maravilhosos que se vê nos slides da Nanog. Porém, mesmo para estes
grandes backbones, uma das reclamações recorrentes é a falta de uma base
teórica para sustentar a atividade. Neste ponto, o pessoal do CAIDA e da
própria NANOG vem fazendo um grande trabalho, mas que ainda é incipiente do
ponto de vista educativo.
Um ponto crucial para o Traffic Engineering é o conceito de 'source routing',
que permite a seleção de rotas no ponto de ingresso da rede. Para comparar,
em uma rede IP convencional o roteamento é feito nó por nó ('per-hop'). O uso
do 'source routing' permite um maior controle sobre o processo de
encaminhamento dos pacotes dentro da rede, que por sua vez viabiliza a
atividade de engenharia de tráfego mesmo em uma rede grande. Para que isso
seja aplicado, porém, é importante em primeiro lugar conhecer profundamente o
seu tráfego. Isso implica na necessidade não só de medir o tráfego, mas
também de investigar adequadamente o tráfego, para que possamos determinar o
que é que deve ser medido.
Vejamos agora o cenário brasileiro. Alguns fatores colaboram para que a
atividade de engenharia de tráfego seja relegada a um segundo plano por aqui,
como por exemplo:
- A concentração de um grande volume de tráfego em uma única região (SP);
- A banda ainda relativamente modesta que trafega no backbone nacional (mesmo
com todo crescimento, ainda estamos bem aquém dos nossos amigos do hemisfério
norte).
- A quase absoluta ausência de SLAs para redes IP (digo SLAs *implementados*,
não SLAs *assinados*. Esses tem de sobra).
- A pouca penetração dos acordos de peering direto ou multilateral (via PTTs).
- A falta de uma cultura adequada de medição do tráfego; não estamos falando
de MRTG, mas de análise fina de tráfego por 'flow'.
Apesar de historicamente estes fatores serem verdadeiros, vemos que vários
deles estão mudando rapidamente. Com o aumento do tráfego, temos hoje no
Brasil cada vez mais backbones de porte respeitável. Nossos problemas
rapidamente se aproximam daqueles vividos nos EUA há um ou dois anos atrás,
para não dizer agora.
Em meio a este cenário, continuamos gerenciando tráfego mais ou menos da
mesma forma que fazíamos antes. Basicamente, nossa interferência sobre o
tráfego ainda se restringe de forma geral ao ajuste manual de parâmetros do
BGP4, feita em geral de forma empírica. Não há que se discutir aqui a
competência individual, ou o valor da experiência do pessoal que mantém os
roteadores rodando. No entanto, estes processos humanos tem seus limites de
escalabilidade, e isso certamente será cada vez mais problemático.
Consideramos que é necessário que a discussão aberta sobre os mecanismos de
'traffic engineering' seja fomentada, dentro da perspectiva de que se trata
de uma atividade essencial à saúde do sistema como um todo. A discussão de
políticas técnicas e administrativas deve ser encorajada, dentro de um
espírito de colaboração aberto. Esperamos que o tema venha a merecer daqui
por diante o carinho e a atenção que tanto merece.
Carlos Ribeiro
CTBC Telecom
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